Demitido do Ministério da Agricultura na terça-feira (11), o ex-secretário de Política Agrícola, Neri Geller, afirmou à imprensa que "não estou torcendo pela queda do ministro Fávaro". A fala veio após especulações de que havia interesse do presidente Lula (PT) em substituir Carlos Fávaro (PSD) por Neri para que o atual ministro voltasse para o Senado para votar a favor de matérias de interesse do Governo Federal - o que não tem sido feito pela suplente Margareth Buzetti (PSD).
Ao programa Manhã Band News TV ele concedeu sua primeira entrevista nesta quarta-feira (12), no dia em que sua exoneração foi publicada no Diário Oficial da União. Entre os assuntos abordados estava a divergência com Fávaro e a polêmica no leilão de arroz que levaram à sua saída do cargo.
Mesmo não tendo concordado com a decisão do ministro, Neri afirmou que não deseja mal ao ex-chefe. "Não vou 'sair atirando' no ministro Fávaro, até pela minha ética e pelo respeito pelo cargo que ele exerce hoje. Estou torcendo para que ele pacifique essa relação com a bancada da agropecuária, não centralize tanto as ações e confie na equipe técnica para que possa gerar essa pacificação".
Apesar de afirmar que não deseja mal ao ministro, Geller fez críticas à atuação dele na pasta, o que tem desagradado produtores rurais de todo o país. "O governo precisa cuidar, corrigir os rumos de direcionamento de algumas políticas. A relação com o Congresso precisa ser melhorada. Estou falando relação de forma genérica com o Governo".
Neri saiu do Ministério após a suspensão do leilão de arroz por suspeita de irregularidades. Um das corretoras que participou do certame é de Robson Almeida de França, ex-assessor de Geller e sócio do filho deste, Marcelo Geller. O ex-secretário de Política Agrícola nega que eles ainda sejam sócios.
Geller disse ainda na entrevista que foi um dos servidores que aconselhou que o leilão fosse realizado com mais calma e com menor quantidade comprada do cereal. "As posições técnicas não foram seguidas. Foi realizado de forma muito apressada para fazer com que o arroz chegasse às periferias. Não faltou da minha parte aviso para que a gente tivesse mais cautela e fizesse as coisas mais organizadas".
Sem citar nomes, ele enfatizou que a condução do leilão foi cercada de erros e que o Governo deveria ter ouvido mais o setor antes de tomar a decisão. "Por parte do presidente Lula tenho muito carinho e respeito. Acho que ele foi mal orientado nessa questão da importação, até porque o arroz é preço globalizado".
Isso porque, segundo Neri, a situação do Rio Grande do Sul em relação à produção de arroz não é tão complicada. "Tínhamos a informação do Rio Grande do Sul que 78% da produção já havia sido colhida e que do restante que faltava, boa parte estaca fora do eixo das enchentes. Isso se confirmou agora".